Geral 23 de maio de 2025
Na última terça-feira, 21 de maio de 2025, a Câmara dos Deputados aprovou, em sessão extraordinária, o projeto de lei que autoriza o reajuste salarial linear de 9% para os servidores públicos federais do Executivo. A medida, que agora segue para o Senado, representa uma conquista importante – mas ainda incompleta – para milhões de servidores que há anos enfrentam a corrosão salarial, o achatamento das carreiras e a crescente desvalorização institucional.
Este editorial não se propõe apenas a comemorar o reajuste, mas a refletir, com profundidade e espírito crítico, sobre o momento vivido pelos servidores públicos federais e sobre o que ainda precisa ser feito para garantir dignidade, reconhecimento e perspectiva de futuro para essa força de trabalho essencial ao funcionamento do Estado brasileiro.
Desde 2017, os servidores públicos do Executivo Federal convivem com reajustes esporádicos, quando não inexistentes. A inflação acumulada desde então ultrapassa os 40%, segundo dados do IBGE. Nesse contexto, o reajuste de 9%, ainda que bem-vindo, mal cobre o déficit acumulado nos últimos anos. Mais do que um aumento, trata-se de uma recomposição parcial do poder de compra corroído pelo tempo, pela inflação e pelo descaso de sucessivos governos.
A aprovação, por ampla maioria na Câmara, indica que há sensibilidade no Legislativo quanto à urgência da pauta. Mas também revela uma estratégia do governo federal: conceder o reajuste como resposta imediata à pressão das entidades de classe e, ao mesmo tempo, postergar debates mais estruturantes – como a revisão e valorização dos planos de carreira.
Se o reajuste é a pauta do momento, a reforma das carreiras é o grande desafio da década. Os servidores federais, em sua maioria, estão enquadrados em estruturas de progressão desatualizadas, sem critérios claros de meritocracia, com baixos incentivos à qualificação e quase nenhum diálogo institucional sobre produtividade e reconhecimento.
Não é por acaso que diversas categorias acumulam déficits de pessoal e registram fuga de talentos para o setor privado. A ausência de um plano de carreira moderno, transparente e valorizador impacta diretamente a eficiência do serviço público e a motivação dos servidores.
Além disso, em um mundo em constante transformação tecnológica, a administração pública brasileira continua refém de lógicas cartoriais. O modelo atual não favorece inovação, transversalidade ou governança moderna. Ao contrário, perpetua desigualdades internas entre órgãos e estimula uma cultura de conformismo.
Governos de diferentes matizes ideológicas insistem em discursos sobre “eficiência na máquina pública” e “austeridade fiscal”, mas frequentemente esquecem que a qualidade do serviço público depende, fundamentalmente, da valorização de quem o executa. O servidor não é o problema — é parte da solução.
É incoerente exigir produtividade sem oferecer planos de capacitação, reajustes dignos ou progressões justas. Exige-se excelência, mas entrega-se desprestígio. O resultado? Um funcionalismo público que envelhece, adoece e se desmobiliza diante do abandono institucional.
É importante reconhecer o papel ativo de sindicatos, associações e fóruns de servidores na conquista do reajuste aprovado no dia 21. Foram meses de mobilização, pressão política e articulação técnica, muitas vezes invisibilizadas pela grande imprensa. A união entre entidades como o Fonacate, a Condsef, o Andes, o Sinasefe, entre outras, foi decisiva para tornar a pauta inadiável.
Contudo, essas mesmas entidades alertam: a batalha pelo plano de carreira continua, e será ainda mais complexa. Ao contrário de reajustes lineares, a reestruturação de carreiras exige análise detalhada, construção coletiva e compromisso institucional — tudo o que tem faltado nas mesas de negociação com o governo federal.
A ministra Esther Dweck, da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, tem reiterado que, após a aprovação do reajuste, o governo abrirá um cronograma de debates técnicos para revisar os planos de carreira do Executivo. Em audiência pública recente, prometeu que “nenhuma categoria será deixada para trás” e que o objetivo é “modernizar o Estado com justiça e valorização do servidor”.
Mas a memória dos servidores é longa. Em 2023 e 2024, promessas semelhantes foram feitas – e engavetadas. O descrédito é real. A confiança será reconquistada com ações concretas: mesas permanentes de negociação, participação paritária nas discussões, transparência nos critérios e propostas efetivas de modernização.
Vale lembrar que estamos a menos de um ano das eleições municipais, e muitos parlamentares já operam em modo campanha. Há, portanto, uma janela política estreita para avanços estruturantes. A aprovação do reajuste, nesse contexto, tem leitura dupla: alívio imediato e também gesto simbólico para a base do funcionalismo.
No entanto, se o plano de carreira não avançar ainda este ano, é provável que o debate seja adiado para 2026 ou fique refém da próxima gestão. A hora de pressionar, propor e construir é agora.
A aprovação do reajuste salarial dos servidores federais no dia 21 de maio deve ser comemorada, sim, como fruto da mobilização coletiva e da resistência institucional. Mas não pode ser interpretada como ponto final da luta. Ela é, na melhor das hipóteses, um ponto de partida.
A valorização dos servidores não pode ser episódica. Precisa ser política de Estado. Precisa estar escrita não apenas nas folhas de pagamento, mas nos planos de carreira, nos editais de concurso, nas estruturas de capacitação e nos canais de diálogo institucional.
O Blog do Sr. Siape seguirá acompanhando de perto as próximas etapas desse processo. A luta por um serviço público mais justo, moderno e valorizado é de todos nós. E ela continua.
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