Concursos Públicos 1 de agosto de 2017
Concursos públicos e o PDV do executivo federal – Faz menos de uma semana que foi assinada a medida provisória nº 792 – o PDV do executivo federal. A esse respeito, tenho poucos pontos a comentar. Segundo a análise dos economistas, mesmo que houvesse a adesão esperada, a economia gerada não seria significativa em relação à desorganização das contas públicas. Há outras medidas importantes que deveriam ser instituídas há tempos, como por exemplo, o imposto sobre grandes fortunas e a revisão de determinados benefícios fiscais.
No que diz respeito ao serviço público, temo o desaparelhamento dos órgãos – alguns já em condições insustentáveis -, com duas possíveis consequências: a precarização/inviabilização dos serviços prestados e o risco da alocação de empregados terceirizados em vagas que deveriam ser de concursados. Não é difícil compreender o que aconteceria se a cada troca de comando político houvesse a possibilidade de substituir os servidores. Basta observar o “toma lá, dá cá” que rege os cargos preenchidos por indicação, com pessoas tecnicamente despreparadas. A necessária continuidade e isenção do serviço público é minimamente protegida pelo quadro de servidores de carreira, que mantém o conhecimento dentro da instituição e atuam de forma desvinculada dos interesses privado/partidários.
No Rio de Janeiro já é possível perceber, como resultado da falta de concursos para a Polícia Rodoviária Federal, o aumento exponencial do roubo de cargas, além de outros danos. A demora em realizar concurso para a Receita Federal também acarreta graves prejuízos. Seria como diminuir o número de empregados numa fábrica, com o objetivo de reduzir despesas. Isso, sem falar de questões sociais, como a carência de auditores fiscais do trabalho, comprometendo a fiscalização e punição dos abusos praticados nas relações trabalhistas.
Com todas essas ameaças, fica a pergunta: ainda vale a pena fazer concurso? Ou ainda: como manter a disposição para estudar até ser aprovado num concurso público, e se sacrificar por um tempo indefinido (mas, certamente, longo) a fim de conquistar algo que está lá na frente?
Os principais problemas estão no executivo federal e em algumas unidades da federação, mas o nosso país é enorme. Assim, apesar das limitações, os concursos continuam acontecendo. Alguns muito bons. Veja:
– Tribunal Superior do Trabalho (TST): para técnico e analista; FCC será a organizadora
– Agência Brasileira de Inteligência (Abin): 300 vagas autorizadas; autorizado pela portaria nº227/2017
– Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJ-PE): 109 vagas; edital publicado
– Tribunal de Contas de São Paulo (TCE-SP): Vunesp será a organizadora
– Secretaria de Finanças de Roraima: 62 vagas; FGV será a organizadora
– Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ): Consulplan será a organizadora
Antecipando-me a críticas de quem alega que os servidores públicos são acomodados e ineficientes, sugiro atualizar as informações. Esta é uma imagem provavelmente fundamentada em épocas passadas, quando os servidores eram indicados por amigos influentes e, realmente, pouco queriam trabalhar, em sua maioria. Infelizmente, ainda há órgãos que não têm histórico de realizar concursos com frequência, que permanecem com um quadro de servidores muito antigos (alguns não entraram por meio de concurso; foram indicados e posteriormente efetivados, a partir das regras da Constituição de 1988).
Atualmente, conquistar uma vaga na administração pública requer muito esforço e dedicação. Quem busca essa alternativa está disposto a estudar muito, investir tempo, dinheiro e enfrentar frustrações, às vezes durante alguns anos. Quem segue até a aprovação chega transformado pela trajetória e muito bem preparado. Conheço alguns defensores públicos, por exemplo, que estudaram por anos até serem aprovados, porque tinham o desejo de fazer a diferença. Hoje, têm orgulho de seu trabalho, que realizam com total comprometimento. Essa é a história de uma nova geração de servidores, que começou a ser construída e aprimorada desde que os concursos se tornaram obrigatórios e foram sendo gradativamente aperfeiçoados em todos os quesitos.
Por outro lado, se a gente observar com alguma isenção, fica claro que o mundo mudou bastante e, atualmente, para se conquistar uma boa posição em qualquer carreira, é necessário bastante empenho, competência e capacidade de aprimoramento constante.
Quando a gente inicia uma faculdade, está disposto a estudar durante anos para iniciar uma profissão. Na verdade, desde o início da nossa vida escolar, estamos nos preparando para escolher uma carreira no futuro, seja ela qual for.
Se você optar por ser empregado no mercado privado, o mais provável é que continue investindo na carreira, fazendo cursos, buscando melhorar sempre, a fim de garantir sua empregabilidade, no mínimo, ou subir de patamar na profissão.
Se você decidir ser empresário, para conseguir se colocar e se manter no mercado também precisará ter uma atitude incansável de buscar a excelência, a inovação, a fim de manter a clientela satisfeita, porque o mercado é cruel e facilmente substitui um prestador de serviços ou fornecedor de produtos por outro que apresente vantagens.
Na administração pública, a excelência precisa ser atestada antes, e não depende de avaliações subjetivas ou de favores pessoais. Ou você prova que é bom ou não entra. Simples assim. Para isso, são necessários anos de dedicação. Depois, já como servidor, caberá também a você lutar pela qualidade das condições de trabalho e zelar pelo adequado atendimento à população – é para isso que você está estudando tanto.
Então, a minha resposta para quem considera muito difícil passar um longo período de estudo e provas até conseguir é: pense se o que você deseja conquistar é realmente importante. Estamos falando da sua vida, e do quanto você acha que vale se dedicar a construir o que deseja, seja como empregado, como empresário ou como servidor público. Porque sorte tem muito pouco a ver com sucesso profissional. Pode até abrir algumas portas, mas o que mantém você em algum lugar é o quanto você cuida dele.
Lia Salgado
Publicado por G1 em 01/08