Geral 8 de junho de 2015
Recente pronunciamento da Presidente Dilma Rousseff poderá trazer tranquilidade para a construção naval. No dia 14 de maio, ao receber o nono navio da Transpetro, Dilma Rousseff assim encerrou seu discurso: “Conteúdo local e política de partilha no meu governo estão mantidos”. Assim, respondeu às multinacionais e parte da mídia. Isso deverá servir para amainar o ambiente, pois multinacionais do petróleo e alguns grupos de mídia garantiam que o conteúdo local estava com os dias contados.
As multis do petróleo têm razão para isso, pois não sabem o que fazer com equipamentos velhos que lhes sobram pelo mundo afora. Quanto a grandes veículos de nossa terra, não se sabe por que advogam a transferência de obras para exterior, pois, como nós, eles vivem da riqueza do país e da agregação de valor ao trabalho. Seus filhos vão ser engenheiros, advogados e contadores que poderão se empregar na construção naval ou em indústrias fornecedoras.
No momento econômico e político, foi vital a manifestação da Presidente. Ela começou por relembrar o que havia no fim do Governo FHC, com estaleiros com grama nos acessos, pois por lá ninguém passava:
“Nós chegamos aqui porque rompemos com uma realidade. Era uma realidade terrível. O Brasil tinha sido, nos anos 80, o segundo maior produtor na área de indústria naval. E esse processo foi desmantelado. Foi tão desmantelado que os estaleiros que existiam, quando o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao governo, tinham grama no chão. A grama crescia porque ninguém, nenhum trabalhador, nenhum funcionário, ninguém passava pelos canteiros, pelas áreas dos estaleiros. E mais, muita gente nesse país, dizia que o Brasil não tinha competência para fazer sequer casco de navio, casco de plataforma ou casco de qualquer um dos produtos da indústria de petróleo e gás. Foi aí que conheci, inclusive, o Ariovaldo, do Sinaval, porque ele fazia parte do movimento do outro lado, que era o movimento para reconstruir a indústria naval no Brasil. E isso foi no início dos anos 2000, já no Governo Lula, em 2003”.
Agradeço a citação da Presidente da República e cito novas partes de seu discurso: “Nós começamos a construir a indústria naval do nada, porque tinham sucateado o parque que havia. Mas aí, isso permitiu que uma decisão estratégica fosse tomada. Primeiro, a indústria naval não ia ser mais concentrada em um só lugar, beneficiando só uma região do país. Ela iria se localizar no Nordeste, no Sudeste, onde ela sempre se localizou, mas ia também se localizar no Sul. E aqui nós estamos diante de um estaleiro que foi construído em cima de um lugar onde tinha só areia”, disse no Atlântico Sul, em Pernambuco.
E acentuou: “O que nós queremos é produzir, no Brasil, aquilo que pode ser produzido no Brasil. Aliás, produzir no Brasil aquilo que pode ser produzido no Brasil foi o lema inicial que levou à reconstrução da indústria naval. Nós estamos produzindo no Brasil o que o Brasil tem condições de produzir. Por isso, a política de conteúdo local, não é algo que pode ser afastado. A política de conteúdo local no meu Governo é o centro de uma política de recuperação da capacidade de investimento desse país”.
Em seguida, falou sobre problemas: “Nós podemos, hoje, passar por algumas dificuldades. Passamos, sim, por dificuldades macroeconômicas, mas hoje é diferente de antes, porque hoje nós temos estaleiros, não só aqui em Pernambuco. Nós temos estaleiros em vários locais. Esses estaleiros produzem não só navios, produzem aquilo que a Petrobras demanda. Produzem plataformas, produzem sondas, produzem navios, produzem navios chamados FPSOs. Navios com grau de valor agregado extremamente elevado, e o que é melhor, diziam que a gente não era capaz de produzir, diziam que os nossos navios seriam piores. Na curva para aprender – curva de aprendizado – nós tivemos alguns problemas, mas que país não teve problemas? Hoje tem demanda para navio. Se essa demanda não for atendida por trabalhadores brasileiros, por empresas aqui instaladas nesse país, nós estaremos ameaçando o Brasil com uma coisa que no mundo se chamou “a maldição do petróleo” ou a “doença holandesa”. É o fato de que a riqueza gerada pode resultar no empobrecimento do resto do país e no enriquecimento só de um setor. Porque isso acontece em outros países do mundo, a chamada ‘maldição do petróleo‘. Para não ter ‘maldição do petróleo‘ nós temos de ter uma cadeia de petróleo e gás, fornecendo produtos com trabalhadores brasileiros treinados aqui, capazes, ganhando salários adequados e tendo uma renda adequada”.
Frisou a Presidente que em certos países que só têm petróleo, outras indústrias acabam, e eles passam a viver só de produtos importados. “Não é isso que nós queremos para o nosso país. Por isso vocês podem ter certeza, a política de conteúdo local, ela veio para ficar. Podem contar com o governo. Conteúdo local e política de partilha no meu Governo estão mantidos”.
Era isso o que a comunidade da construção naval – de mais de 600 mil pessoas – e a comunidade industrial e científica queria ouvir. Conforme frisei recentemente, os navios da Transpetro estão garantidos pelo Promef, e os barcos de apoio, pelo Prorefam. Há que se partir para a renovação de encomendas, mas após algum tempo. A prioridade imediata é a de se obter a garantia que, dos 28 navios-sonda previstos para construção, por encomenda da Sete Brasil, pelo menos 18 serão mantidos, para tranquilidade dos trabalhadores e para que a indústria siga seu caminho ascendente. As declarações da Presidente nos deram tranquilidade e vamos lutar para ver essa realidade confirmada em breve.
Fonte: Monitor Mercantil/Ariovaldo Rocha/Presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval).