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Geral 19 de maio de 2015

OS GESTORES DO FUTURO

Um curso de Pós-Graduação prepara profissionais ligados à Administração Pública para serem Executivos capazes de liderar reformas e aumentar a produtividade do Governo.

O historiador francês Fernand Braudel, integrante da primeira geração de professores da Universidade de São Paulo (USP), nos anos 30, mais tarde reconhecido como um dos mais influentes intelectuais do pós II-Guerra, paradoxal a “dificuldade anormal” no desenvolvimento dos países pobre. Em A Dinâmica do Capitalismo, livro editado a partir de três(3) palestras proferidas nos Estados Unidos em 1977, manifestou sua surpresa diante do atraso de algumas economias quando “a revolução já não precisa ser inventada, quando os modelos estão à disposição de todo o mundo” e “tudo deveria ser fácil, mas nada funciona facilmente”. Nas últimas quatro(4) décadas, vários países, principalmente na Ásia, conseguiram superar o paradoxo exposto por Braudel e emergiram da pobreza.

Na América Latina, entretanto, nada ainda funciona facilmente. O desenvolvimento ocorre em espasmos. A região (e o Brasil em particular), evoluiu em relação ao seu passado. A velocidade, contudo, empalidece diante da transformação ocorrida na Coreia do Sul, em Singapura e em Taiwan, países pobres até os anos 70 mas hoje prósperos e desenvolvidos.

Depois de ter passado por fórmulas alternativas e fracassadas na tentativa de acelerar o desenvolvimento, o Brasil busca, lentamente, aproximar-se dos exemplos internacionais bem sucedidos. A escolha de reformas e projetos prioritários é apenas o primeiro passo. Essencial é torná-los de fato efetivos, e esse papel cabe ao Governo. A produção da riqueza dá-se na iniciativa privada, mas é o Setor Público que arbitra os mercados, direciona os investimentos, aplica a Justiça e distribui os recursos recolhidos pela Tributação. Por anos, os gastos crescentes da máquina estatal foram financiados com o aumento da carga de impostos. O setor privado ficou com ar. Para o país sair do marasmo econômico e manter a melhoria dos indicadores sociais, o Governo em sus três(3) esferas (União, Estados e Municípios), terá de usar os recursos de maneira mais eficiente.

Superar a “dificuldade anormal” para acelerar o desenvolvimento requer um Governo mais produtivo. Para uma nova geração de Gestores Públicos, muitos deles com experiência em empresas privadas, isso ficou evidente. As boas iniciativas, entretanto, esbarram em obstáculos como os vícios do corporativismo burocrático e o abandono do projeto por causa da sucessão eleitoral. Essas são algumas das principais preocupações dos integrantes da primeira turma da Pós-Graduação em Administração Pública do Centro de Liderança Pública (CLP).

TEORIA E PRÁTICA

Alunos do Centro de Liderança Pública durante aula em Harvard: Políticas para uma gestão mais eficiente

No fim de fevereiro, o grupo de 35 alunos, em sua maioria Gestores de altos cargos na Administração de Órgãos, Estados e Prefeituras, entre eles oito(8) Secretários, passou uma semana na Kennedy School, na Universidade de Harvard, onde discutiu estratégias para desenvolver reformas capazes de atrair investimentos e aprimorar a qualidade dos serviços prestados por sua Administração. Fazem parte do programa profissionais de áreas como: Educação, Finanças, Ambiente e Saúde, de capitais como: São Paulo, Rio de Janeiro e Teresina.

O CLP está em fase de seleção dos interessados em fazer parte da segunda turma do curso. “Os Governos podem e devem ser mais produtivos, e bons Gestores Públicos são essenciais para que isso aconteça”, diz Luiz Felipe D’Avila, Diretor-Presidente do CLP e também ex-aluno da Kennedy School, o modelo que o inspirou a criar uma escola similar no Brasil. Pode-se pensar o curso como um MBA (Master of Business Administration), adaptado às particularidades da Administração Pública. Um Plano como o Real, por exemplo, teria vida curta sem todo o trabalho de articulação política e comunicação social feito simultaneamente à execução técnica. Deixado nas mãos de tecnocratas, seria um fracasso. “Sem gestão, passamos todo o tempo apagando incêndios, perdemos a capacidade de planejar a longo prazo”. Silvio Roberto Bernardin, Secretário de Administração de Campinas, ressalta a importância do fato, destacado por Matt Andrews, em Harvard, de que o Gestor deve estar sempre atento ao processo de implementação (quem assumirá as responsabilidades, quais as autoridades a ser envolvidas, quais os interesses da comunidade e dos empresários, de onde virão os recursos e como eles serão gastos), e não focar exclusivamente os resultados. Dar ordens, afinal, não significa que elas serão cumpridas. “Nos Serviços Públicos, os resultados muitas vezes não aparecem a curto prazo”, diz Bernardin. “É preciso vencer a resistência do corporativismo. Mas é possível pensar a Gestão de maneira mais eficiente”.

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O Psiquiatra Felipe S. N. Machado, do Programa de Atenção à Psicose na Infância e Adolescência, da Unifesp, decidiu fazer a Pós-Graduação porque pensa em dedicar-se, no futuro, mais diretamente à Gestão de Serviços de Saúde, possivelmente estreitando parcerias da Universidade com o Governo. “Ainda há muita resistência da Academia contra envolver-se mais diretamente com atividades práticas”, diz Machado. “Precisamos ampliar a ação da Medicina”.

Em seu trabalho de conclusão do curso, Elizabeth Jucá, com outros colegas de curso, trabalha em um projeto para transformar Juiz de Fora em um polo de desenvolvimento para a Zona da Mata mineira, com a criação de um parque tecnológico. Silvio Bernardin e seu grupo pensam em um modelo de transição de Governo para evitar, entre outros contratempos, o esvaziamento de políticas bem sucedidas. Felipe Machado, ao lado de um colega, está desenvolvendo um aplicativo de internet que permitirá fazer a comparação, em tempo real, da qualidade de Hospitais, Clínicas e Universidades de atendimento de todo o país, com a análise, feita pelos usuários, de diversos aspectos do serviço. São exemplos de boas ideias que, no futuro, poderão dar nova vida à Gestão Pública, hoje frequentemente associada a serviços ruins e corrupção.

Por: Giuliano Guandalini, de CAMBRIDGE (EUA)  / Revista VEJA – 

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